3.24.2004

Acabadinho de espremer e dedicado à CC ( que me inspirou e que me vai pagar as sessões no psiquiatra que eu virei a precisar depois disto, ai, ai...)

(Podíamos ser…)

A seiva desta orquídea rara
O voo apressado deste colibri
O bibelot barato numa loja cara
A mulher da praça que nunca se ri

O metal frio e liso que nos arrepia a nudez
A espuma amarelada das ondas citadinas
O rosto fustigado sentado aquela esquina
O condenado à morte à espera da sua vez

(Parecemos mais…)

Cobardes abraçados
A apertar nas mãos
Imagens da beleza
Que teima em nos fugir
Personagens inadequados
Figurantes transparentes
Ao canto da sala a tentar sorrir

(E o que afinal somos…)

Não sei
Rimos nervosos para esconder o medo
Sufocamos os gritos numa angústia sem nome
Estendemos as asas a um sol morno
Que se recusa a queimar
Estes sonhos, segredos por realizar

Às vezes tropeçamos em tristezas súbitas
Somos sombras escuras, cinzentas pálidas
Mas logo pontapeamos as amarguras
E renascemos luz, fogo de artifício

Talvez sejamos fruta sumarenta
Folhas em branco
Pautas por escrever
Talvez sejamos a sofreguidão
Impossível de satisfazer