6.16.2004

E depois veio um dia atrás do outro
Chegaram numa fila longa e ordenada
Iam-me batendo à porta, que eu abria
Entravam
Traziam-me coisinhas pequeninas
Como palavras amigas emitidas de
Sorrisos cúmplices
Sonhos caseiros pancadinhas no ombro
E amostrinhas de revistas
Traziam-me coisas grandes
Como medos muito fundos
Incertezas muito longas
Saudades pesadas como pedras
Que se encaixavam miraculosamente
Nos meus ombros tão estreitos
Entravam, limpavam os pés
Alguns chegaram a descalçar-se
Para falar mais à vontade
De imagens que me deveriam preencher
De ambições que me deveriam fazer mexer

Veio um dia atrás de um dia atrás do dia
Em que me levantei
Esfreguei os olhos nublados
Forcei os pés cansados
E quando me preparava para sair
Pensei no dia que viria
Quem lhe abriria a porta
Quem estaria lá para o receber
Assim me detive
E permaneci
Aqui