10.15.2004

É oficial: estou velha. Se o facto de uma cantora que eu gosto muito abrir os Jogos Olímpicos (em vez de um cantor qualquer do gosto da minha avó) ainda deixava margem para dúvidas, isto tirou o assunto a limpo: minutos depois de fazer um "pffff" de desprezo condescendente para uns miúdos de ar rebelde que passavam com aquela atitude zingona que aos 16 me faria tremer os joelhos, comprei uma revista de cozinha (numa questão de meses devo estar a comprar a Burda) que trazia um suplemento deste menino, e enfim, devo dizer que o meu novo padrão de "sex symbol" passa por uma mesa de madeira tosca, um ar feliz entre a avó e a mulher e bebés ao colo entre tachos.

Ah, já que falo de cozinheiros, veio aqui na quarta feira o Heston Blumenthal. Para quem não conhece, é uma pessoa com uma atitude muito criativa e saudável perante a vida: sem saber nadinha de ciência no plano académico, transportou os seus porquês culinários(muitos, por acaso) para o plano da ciência. Sem complexos nem preconceitos pegou nuns livritos, telefonou a uma longa lista de cientistas na área alimentar até encontrar parceria e neste momento tem na cozinha deste restaurante mais aparelhos da Fisher que da Tefal. O problema da clara de ovo utilizada para separar impurezas nos consomés arrastar consigo parte do sabor foi ultrapassado como? Com um filtro a vácuo pois claro. E as batatinhas fritas, que para ficarem mesmo estaladiças têm de estar sequinhas como um carapau? Usa-se um exsicador, pois então. E porque é que uns sabores combinam tão bem e outros não? No caso das cerejas e amêndoas é por conta do benzaldeído, molécula comum a ambas, o que abre camonho para uma nova abordagem de combinações de sabores incomuns... enfim, tive direito a uma framboesa gaseificada e a umas gomas de beterraba deliciosa. Se acham esta história meio suspeita, que isso cozinha é cozinha e química é química, fiquem sabendo que o consomé filtrado encheu o anfiteatro com um cheirinho óptimo.