3.30.2005

Quaresma pós-pascal

Os ovinhos de chocolate estão todos com 70% de desconto (sim, até os Lindt) e não comprei nem um.

3.22.2005

Cheiros...

...entre as páginas da leitura atrasada de um suplemento do jornal de Domingo*.


Nada nos toca no fundo da memória como os cheiros, todos o sabemos ou descobrimos se pensarmos um bocado nisso. Uma música transporta-nos para cenários difusos, um objecto faz-nos nascer um sorriso parvinho, mas os cheiros, os cheiros teletransportam-nos. São a máquina do tempo, não precisamos de mais nenhuma geringonça com botões e físicas complicadas para voltar a fungar a manga da camisola entre o baloiço e o toque de entrada. Só de um nariz e de uma vida.


E entre as páginas da leitura atrasada do jornal de Domingo encontrei alguém a cronicar sobre isto. Encontrei entre uma citaçao de Proust (linda) a evocar o cheiro de bolo embebido em chá, a informação de que existe um prémio literário para a melhor descrição de um cheiro (Jasmine Awards) e o inevitável Freud a relacionar nariz e sexo, as curisidades científicas a dar um ar profissional à coisa: o olfacto é o único sentido molecular. Visão e audição penetram o nosso cérebro com ondas. O cheiro é molecular, e por isso, muito específico e muito mais profundo que os outros sentidos. Quem delira com o cheiro relva acabada de cortar (relacionado nas profundezas da nossa cabecinha dada ao prazer com tardes preguiçosas e solarengas) pode agradecer ao 3E-hexamel e ao enzima que o origina quando a relva é cortada e a sua seiva exposta ao ar. Ah, e a parte do cérebro que porcessa os cheiros está mesmo ao lado da que lida com a memória.

Esta especificidade do olfacto e esta vizinhança cerebral coma memória faz com eu ao cheirar Boucheron seja transportada para o Verão em que a minha mãe usou intensivamente esse perfume e para parágrafos inteirinhos dos "Cinco" que eu andava a devorar na altura. E isto funciona ao contrário, juro. Ainda hoje a mexer numa coisa que parecia uma balança antiga me lembrei automaticamente de uma que os meu avós tinham numa arrumação. O laboratório começou a cheirar intstantaneamente à mistura de batatas e coisa que se pões nas batatas para elas não grelarem. Era isso que existia na arrumação dos meus avós, lado a lado com a balança.


É bom ter sentidos e memórias.



*O ABC, a crónica "Notes and theories" do Stephen Bailey, este fim-de-semana.

3.16.2005

Entretanto fiz anos e, como castigo, fui raptada!

Sofri horrores: tive de andar dias inteirinhos em ruas muito estreitas, apanhar sol directamente na cara em esplanadas, ver a luz do entardecer a transformar as tais ruas estreitissimas e a cor da àgua que as banhava, namorar entre escadinhas, gatos preguiçosos e velhinhas à janela.


Foi difícil, mas sobrevivi.
E prometi que este ano não me vou queixar dos anos que se acumulam. Nem de objectivos que tardam. Nem de atalhos ou desvios inesperados. Vou passear na vida como naquelas ruas, com a certeza que, a qualquer momento uma nova janela ainda mais florida com a roupa estendida ainda mais branca e os vidros gastos ainda mais coloridos vai aparecer. Sabendo que às vezes becos escuros e suspeitos escondem praças onde ecoam risos miúdos e gargalhadas antigas.
E que a beleza disto tudo está em sítios que não aparecem no mapa dos percursos obrigatórios, que ninguém nos ensina o caminho para lá chegar. Está no inesperado de uma ponte pequenina que é só nossa e na sesta silenciosa entre pedras que já viram tudo.

3.04.2005

Hoje descobri que...



me divertiria muito mais no trabalho se fosse uma daquelas senhoras que escolhem as peças chave da estação e num mês mandam comprar azul para no outro dizer que as peças azuis estão "out", lixo-com-elas-já e fazem montagens do género:" peças chave para um fim de semana romântico" ou "fique com o look das passereles por apenas 100 euros".


(nota: kaftan antik batik, vestido lindo das bolinhas clements ribeiro,casaco amarelo paule joe, outro vestido chloe e sandálias marc jacobs (custam 200 libras uma indecência))

3.03.2005

Inconsolável

Vão, vão lá passar o fim de semana entre o vinho novo das aldeias mais minúsculas das redondezas, trouxas de ovos, migas com fritada e as alheiras do clube dos caçadores (suas pindéricas, pavorosas, parvalhonas,horrorosas humpft). Eu vou tentar compensar-me com uma "pint" morna de mil paus e pensar que vão fazer um ou dois brindes por mim...é que já é o terceiro ano consecutivo que falho o "haja saúdinha" com vinho em copinho de barro mal lavado, não há direito.

3.02.2005

texto encriptado

Os olhos meios de lágrimas ao olhar para o dedo médio e imaginar os detalhes da história da pérola ao longo do tempo, da loja até ti, de ti até ela, dela até mim em teu nome. Bem feita, quem me manda andar a passear as memórias nas mãos. Escondê-las em baús escuros e fundos seria mais sensato. Mas menos humano.