1.28.2005

Ícone

Depois da imagem da Audrey Hepburn/Holy Golightly aparecer em tudo o que é mala parola, tabuleiro envernizado e postal sonso decidi escolher outro. Mas continuo indecisa.
É este



contra este:





A parte de mim que anda agora todas as segundas-feiras, com esta idade!, a saltitar de biquinhos nos pés até ganhar caímbras inclina-se para o primeiro. A parte de mim que tem palpitações quando ouve "All tomorrows parties" e por vezes ainda se interroga, entre a caixa do supermercado e cadeado da bicicleta, se a cena do elevador do filme do Oliver Stone aconteceu mesmo inclina-se para o segundo. Que vença a melhor...

1.26.2005

Yupi

Hoje é dia disto. A minha nova "novela das oito".

1.23.2005

Gosto muito

de fingir que a minha vida não é da minha conta. Tiro assim umas folgas e vejo-a passar. E independente, que ela é? É que já nem olha para trás à minha procura.

1.18.2005

I'm dreaming...

...of a blue summer.

Assim:


Posted by Hello
da Chloe, copiado brevemente numa HM perto de si



1.17.2005


Bocadinhos de saudades, pedacinhos de luz, sorrisos que me guiam. Sitios, coisas, peles onde espalhei bocadinhos de mim. Abafados em gavetas, escondidos em caixinhas, trancados, esquecidos, expostos em paredes, trespassados por "pionaises", com os cantos dobrados e estragados da cola. Quanto de mim ali ficou, quanto de mim levaram, quanto deles trago comigo na ilusão de uma imagem? Posted by Hello

Merda, hoje estou na curva descendente da montanha-russa...*

Sou esse pó que escondeste
Devagarinho com o pé
Para o canto debaixo
Da mesa no canto da parede
Onde os teus papéis se acumulam
Num equilíbrio que desafia a gravidade
No canto onde naquele dia me encostaste
E me fizeste contar as estrelas do céu
Uma a uma a uma
Até à última
(uma muito pequenina que nunca existiu)


*...e já agora, farta da montanha-russa. Eu era mais planícies agora.

1.13.2005

Esta semana...

...decidi deixar-me de contemplações, de horários flexíveis ao sabor da preguiça e horas seguidas a ler a mesma página entre bocejos. Fiz daquelas listas de tarefas que se vão riscando, risquei todas e mais algumas todos os dias, trabalhei das 9 às 6. A somar a isto (como se não chegasse) tive cuidado com a alimentação, arrumei a roupa sempre (a "cadeira da roupa" nunca esteve tão leve), dobrei o pijaminha e não ignorei um único dia aqueles cremes de limpar a pele antes de dormir

Resultado? Hoje cheguei a casa, tropecei na cama e depois de uma sesta abro um livro, leio um dos meus poemas preferidos e não sinto nada. Preocupada, ponho-me a ouvir uma das minhas músicas preferidas e passados dez segundos estou a pensar num parágrafo qualquer de um relatório que entreguei. Se amanhã quando te abraçar não me voarem borboletas na barriga interno-me aí num sítio qualquer.


Esta semana descobri que a virtude não é para mim. Resolução tardia para 2005: convencer o resto do mundo de como a preguiça aguça a sensibilidade.

1.09.2005

É amor...

Mais cedo ou mais tarde eu ia fazer isto (não consigo evitar é aquela compulsão, partilhada por quem tem bichos em casa, de fotografar o animal de estimação de todos os ângulos e exibir babado a fotografia).Por isso, e como até vai bem com os tigrinhos faço mesmo agora:


Kafka Posted by Hello

Tigrinhos


Posted by Hello

E estava eu já completamente apaixonada pelos
bichinhos, a pensar: coitadinhos estão a sofrer mais que o Bambi, a pensar que mau era o senhor do circo que lhes batia e fazia o Kuma saltar aros de fogo, quando me lembrei que os tigres lindos-lindos-lindos que estavam a fazer o filme também devem ter levado uns tabefezitos, também foram roubados à floresta e também estavam desviados da tigreza natural de andar livremente a esfarelar bichos mais pequenos até ficar satisfeito e com os bigodes cheios de sangue. Bolas!


1.04.2005

Balanço de 2005 ...

...ainda não tenho resoluções, aquilo das doze passas nas doze badaladas é muito rápido para mim, mas vendo bem isto não está a correr mal:

-já chupei azedas, o que tele-transporta novamente para a felicidade do metro e dez sem dentes da frente e totós espetados

-e, apesar de ter dedicado as férias a intoxicar-me de sonhos encharcados em calda, coscorões, pão-de-ló e à avaliação intensiva de qual o melhor bombom dos 3450 que me ofereceram (e não me estou a queixar, nunca são demais), emagreci dois quilos. Franceses cuidem-se, acabei de descobrir o "paradoxo português" e estou desconfiada que deve estar relacionado com a sopa.

1.03.2005

Deixou a alma debaixo do tapete da entrada já gasto que tinha escrito “Bem-vindo” em seis - seis! - línguas diferentes. Varreu-a por descuido, esqueceu-se de para onde a tinha empurrado e quando se lembrou decidiu que aquele era um bom sítio para a deixar.

Antes debaixo daquele que debaixo de um das centenas de tapetes que, em feitio de mosaico, cobriam o corredor, a sala fechada das visitas e da cristaleira, a sala pequenina da lareira onde se torrava pão e se aqueciam as mãos ao chegar - essa, sim tinha escrito “Bem-vindo” numa linguagem universal – e a sala das malhas e bordados da mãe.

A mãe via muito pouco e demorava uma tarde para conseguir enfiar a linha no buraco da agulha. Às vezes quando finalmente conseguia já tinha escurecido e tinha de a deixar de lado para o dia seguinte.


Deixou a alma abandonada à mercê das pisadelas das visitas que tardavam e para quem sempre estavam reservados biscoitos já duros numa lata pintada à mão com cavalos, carruagens e princesas desdenhosas.

Talvez, saindo sem ela, o mundo lhe parecesse mais leve, as distracções e embaraços o fizessem rir. Talvez, com ela assim escondida e protegida, tivesse um dia vontade de destapar o carro, de o tirar da garagem e ir devagarinho passear a mãe à marginal ao ritmo dos domingos. E quem sabe, entre os risos das crianças dos outros, encontrasse coragem para procurar a sua, para rematar o pagamento das bicas e das queijadas com uma piada à menina da pastelaria que até tinha uns olhos bem bonitos? Talvez a pudesse deixar – a alma – bem escondida o resto da vida para não estorvar e escrever no testamento - não disso não se podia esquecer - que a colocassem no caixão quando partisse, amachucada entre o lenço de seda e o cravo branco na lapela.

O tapete da entrada. Era um bom sítio para a deixar, repetiu antes de sair.

Ah, então é por isso

Hai-Kai

Nós temos cinco sentidos:
são dois pares e meio d'asas.

-Como quereis o eqílíbrio?

David Mourão-Ferreira