3.23.2006

Mrs Solis

Num destes últimos episódios, à mesa do jantar partilhada com uma freira:

Carlos: "Gabi, money doesn't bring happiness, you know?"

Gabrielle: "No, that's just a lie you tell poor people to keep them from rioting"

The state that I am in(5)

A beliscar-me.

Terei mesmo comprado 5 filmes do Almodovar por 5 contos? Um deles, o "Carne Tremula"?

Ai, por vezes rendo-me aos "franchisings " impessoais e às promoções loucas. Tenho desculpa, sou bolseira.

3.15.2006

Infelizmente

não fotografei a pensão mais "kitsch" do mundo, onde partilhei a mesa do pequeno-almoço, impecavelmente enfeitada com flores de plástico, com um monte de renas e pinguins de peluche enquanto pelas cortinas rendadas observava os gnomos do jardim. Tudo isto não seria meio irreal se a casa e o jardim não fossem dignos de qualquer romance da Jane Austen. Adoro contrastes. Infelizmente também não fotografei a transição instantânea de paisagem lunar gelada para prado verdejante cheio de cordeirinhos. Mas nem tudo está perdido, encontrei (avé google) esta receita de "souvenir" (a servir quente com uma dose generosa de natas)

(Espero que fujas comigo sempre sempre sempre, não é que despista mesmo os monstros maus?)

The state that I am in (4)

De birra, à procura de um micro-raio de sol que seja, de um calorzinho leve na cara ao menos, de um segundo de luz amarela que convide a sentar na relva.

3.10.2006

"De tantas tantas mão que nos passam pelas mãos e tão poucas que são as que nunca se esquecem"*

Vão-se acumulando rostos, nomes, momentos cada vez mais fugazes. A primeira vez de quase tudo já passou. Mas tão bom, tão bom saber que as mãos de que nunca me esqueço me enchem o coração mesmo à distância de meia dúzia de paìses, até através de continentes, a transbordar sorrisos de bocas que já se calaram. E, vendo bem, ao contá-las os dedos das minhas não chegam.


*título roubado ao David Mourão-Ferreira, excerto de um poema que ficou dentro da minha cabeça sem mais versos nem livro nem página nem referência completa

27(2) - Inventário de tanto/tão pouco

Retenho da vida Pedacinhos pequeninos de beleza adormecida Que têm de ser chocalhados Transformados para se revelar Purpurinas douradas do Carnaval mais banal Duma qualquer Lolita de trazer por Casa Pedacinhos de morder gomas ácidas fluorescentes Tão ácidas como petazetas Polaroids envelhecidas com cabeças cortadas e Sorrisos Que nunca mais vou ver nascer Fotografias mal tiradas que o talento é pouco A que acrescento comentários cómicos ou ternurentos E que aprisiono em álbuns escondidos Que com o passar do tempo se tornam Bolorentos Objectos de plástico De cores berrantes e utilidade Misteriosa Alguns foram brindes de chocolates infantis Outros pechinchas de brique-a-braque Mil ervinhas diferentes No mesmo boião Onde as propriedades se confundem E onde um dia a tília Se tornará estimulante Pedrinhas erodidas e conchinhas partidas da beira-mar na maré mais baixa Aprisionados em tacinhas de vidro liso muito Transparente Pedacinhos de madrepérola rasgados e secos Presos em fio de pesca para bloquear as moscas Momentos imperfeitos, incompletos de tão reais Que recorto e reconstruo no estúdio da memoriam E que recordo com estrutura ilusória e definida Inspirada noutras vidas noutros gestos Talvez até no cinema ou num episódio feliz da mais recente novela das oito papelinhos escritos por pessoas meio difusas cujo nome ecoa incerto num canto remoto da minha cabeça Momentos e gestos ínfimos Sequências mágicas, instantes perfeitos Aqueles dias, aquelas noitesEm que tudo o que acontece é tão natural e Bonito Aqueles dias, aquelas noites em que mesmo Sabendo que tudo está a mudar Nos deixamos invadir pela Apatia Aqueles rostos que não me largam e nem sonham Aquelas mãos tão grandes e quentes que um dia Me contiveram Aqueles olhos anónimos que um dia me fizeram Chorar Equilibristas trapézios que me fizeram nascer As cores fortes daquele quadro que me faz sorrir Os primeiros acordes da música que mais gosto de ouvir Orquídeas raras carnívoras e malmequeres O amanhecer inesperado quando a noite passou sem pesar A forma como o tempo saltita com as pessoas que gosto de conversar As nossas noites ao relento a refilar do frio e o amanhecer à beira-mergulho Que se lhes seguiu O cansaço bom depois de nos consumirmos Com a sede típica de quem ama muito A organização caótica em que disponho o que é meu o ritmo aos arranques com que trabalho e vivo s teus olhos que às vezes estão quase a chorar nunca mas nunca os vi de tristeza são verdes tão verdes como musgo de natal grandes tão grandes que nunca vão ver mal sorriso mais lindo numa foto recente e uma pessoa antiga que me moldou a vida sua assinatura aprendida a ferros e tremida paladares quentes que sabem a lareira calma confortante de um chá feminino e familiar onde numa ponta da mesa está a prima mais nova E na outra a avó babosa

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...e ainda tenho medo de corredores escuros.