9.30.2004
Bom demais para ser verdade!
Onde? Nos saldos de Outono da HMV.
O quê? DVD "Donnie Darko" a 1200 paus e DVD "Lost in translation" a 1500 paus.
Amanhã, depois de me beliscar vou comprar :)
Onde? Nos saldos de Outono da HMV.
O quê? DVD "Donnie Darko" a 1200 paus e DVD "Lost in translation" a 1500 paus.
Amanhã, depois de me beliscar vou comprar :)
9.29.2004
So far so good
O meu quarto tem lavatório e cortinas estampadas de um estampado diferente da bela colcha em tons de roxo e castanho.
Consigo esticar os braços sem bater nas paredes na direcção Norte Sul.
Partilho casa, até agora, com uma chinesa, um francês e uma americana, as nacionalidades com que mais embirro (toma lá para não seres preconceituosa). Menos mau é que a americana é anti-americana, a chinesa invisível e o francês sabe falar inglês e sorri (algo está errado).
Estive horas em filas e ainda me faltam mais filas e filas e filas e impressos e impressos e impressos.
Tropecei em dois meninos acnosos com as meinhas de fora das calças e chapelinhos rídiculos e antes de eles terem tempo de empunharem os cartazes "stop the ban" fiz-lhes o meu olhar número 6 e eles fugiram.As meninas aqui misturam todos os "must-haves" da estação assim: poncho, saia "pencil" em "tweed", botas esquimós, blusa de laçada e broche em feitio de flor, às vezes é esteticamente ofensivo, juro!
Estive numa biblioteca imensa com milhões de livros técnicos muito específicos, e sorri a olhar para uma das prateleiras. Envergonhei-me de mim mesma e fugi (mas com três debaixo do braço).
E isto não vai melhorar...
O meu quarto tem lavatório e cortinas estampadas de um estampado diferente da bela colcha em tons de roxo e castanho.
Consigo esticar os braços sem bater nas paredes na direcção Norte Sul.
Partilho casa, até agora, com uma chinesa, um francês e uma americana, as nacionalidades com que mais embirro (toma lá para não seres preconceituosa). Menos mau é que a americana é anti-americana, a chinesa invisível e o francês sabe falar inglês e sorri (algo está errado).
Estive horas em filas e ainda me faltam mais filas e filas e filas e impressos e impressos e impressos.
Tropecei em dois meninos acnosos com as meinhas de fora das calças e chapelinhos rídiculos e antes de eles terem tempo de empunharem os cartazes "stop the ban" fiz-lhes o meu olhar número 6 e eles fugiram.As meninas aqui misturam todos os "must-haves" da estação assim: poncho, saia "pencil" em "tweed", botas esquimós, blusa de laçada e broche em feitio de flor, às vezes é esteticamente ofensivo, juro!
Estive numa biblioteca imensa com milhões de livros técnicos muito específicos, e sorri a olhar para uma das prateleiras. Envergonhei-me de mim mesma e fugi (mas com três debaixo do braço).
E isto não vai melhorar...
9.27.2004
Amanhã vou estrear uma vidinha nova...novas rotinas, novos sítios, um papel que ainda não sei muito bem como representar, o abismo que é para mim transformar caras desconhecidas em amigos/colegas/embirrâncias/"whatever" e, durante 3 aninhos, os amigos de sempre vão estar contidos num endereço electrónico e num som estranho vindo do computador ("#$" is online, brlum)...a minha mãe vai perguntar todos os dias se comi em condições e nunca vai acreditar quando eu disser que sim...vou achar que fiz a melhor coisa...vou achar que fiz a pior coisa...vou querer desistir...vou adorar não ter desistido...vou imaginar mil cenários e, como sempre, vou viver no milionésimo primeiro que nem me tinha passado pela cabeça...
Por isso a mentalização de hoje é...
este emaranhado de nervos na barriga é bom,faz-me sentir viva e não vou desatar aos gritos no meio da rua,este emaranhado de nervos na barriga é bom,faz-me sentir viva e não vou desatar aos gritos no meio da rua, este emaranhado de nervos na barriga é bom,faz-me sentir viva e não vou desatar aos gritos no meio da rua,este emaranhado de nervos na barriga é bom,faz-me sentir viva e não vou desatar aos gritos no meio da rua,este emaranhado de nervos na barriga é bom,faz-me sentir viva e não vou desatar aos gritos no meio da rua,este emaranhado de nervos na barriga é bom,faz-me sentir viva e não vou desatar aos gritos no meio da rua,este emaranhado de nervos na barriga é bom,faz-me sentir viva e não vou desatar aos gritos no meio da rua,este emaranhado de nervos na barriga é bom,faz-me sentir viva e não vou desatar aos gritos no meio da rua,este emaranhado de nervos na barriga é bom,faz-me sentir viva e não vou desatar aos gritos no meio da rua,este emaranhado de nervos na barriga é
Por isso a mentalização de hoje é...
este emaranhado de nervos na barriga é bom,faz-me sentir viva e não vou desatar aos gritos no meio da rua,este emaranhado de nervos na barriga é bom,faz-me sentir viva e não vou desatar aos gritos no meio da rua, este emaranhado de nervos na barriga é bom,faz-me sentir viva e não vou desatar aos gritos no meio da rua,este emaranhado de nervos na barriga é bom,faz-me sentir viva e não vou desatar aos gritos no meio da rua,este emaranhado de nervos na barriga é bom,faz-me sentir viva e não vou desatar aos gritos no meio da rua,este emaranhado de nervos na barriga é bom,faz-me sentir viva e não vou desatar aos gritos no meio da rua,este emaranhado de nervos na barriga é bom,faz-me sentir viva e não vou desatar aos gritos no meio da rua,este emaranhado de nervos na barriga é bom,faz-me sentir viva e não vou desatar aos gritos no meio da rua,este emaranhado de nervos na barriga é bom,faz-me sentir viva e não vou desatar aos gritos no meio da rua,este emaranhado de nervos na barriga é
9.23.2004
Mentalização
céu cinzento é giro, céu cinzento é giro, é bom passear debaixo de um céu cinzento prestes a desfazer-se em em chuva céu cinzento é giro, céu cinzento é giro, é bom passear debaixo de um céu cinzento prestes a desfazer-se em em chuva céu cinzento é giro, céu cinzento é giro, é bom passear debaixo de um céu cinzento prestes a desfazer-se em em chuva céu cinzento é giro, céu cinzento é giro, é bom passear debaixo de um céu cinzento prestes a desfazer-se em em chuva céu cinzento é giro, céu cinzento é giro, é bom passear debaixo de um céu cinzento prestes a desfazer-se em em chuva céu cinzento é giro, céu cinzento é giro, é bom passear debaixo de um céu cinzento prestes a desfazer-se em em chuva céu cinzento é giro, céu cinzento é giro, é bom passear debaixo de um céu cinzento prestes a desfazer-se em em chuva
http://www.pickettphoto.com/life/life6.jpg
céu cinzento é giro, céu cinzento é giro, é bom passear debaixo de um céu cinzento prestes a desfazer-se em em chuva céu cinzento é giro, céu cinzento é giro, é bom passear debaixo de um céu cinzento prestes a desfazer-se em em chuva céu cinzento é giro, céu cinzento é giro, é bom passear debaixo de um céu cinzento prestes a desfazer-se em em chuva céu cinzento é giro, céu cinzento é giro, é bom passear debaixo de um céu cinzento prestes a desfazer-se em em chuva céu cinzento é giro, céu cinzento é giro, é bom passear debaixo de um céu cinzento prestes a desfazer-se em em chuva céu cinzento é giro, céu cinzento é giro, é bom passear debaixo de um céu cinzento prestes a desfazer-se em em chuva céu cinzento é giro, céu cinzento é giro, é bom passear debaixo de um céu cinzento prestes a desfazer-se em em chuva
9.22.2004
Copy Paste com os olhos rasos de lágrimas e um nó cego na garganta
Via Laranja Amarga:
Ajuste de Contas por António Lobo Antunes [Visão/ 9 de Setembro de 2004]
O meu pai morreu no dia 10 de Junho, há dois meses e meio. Pouco antes o Miguel perguntou-lhe - O que é que gostava de nos ter transmitido? e ele respondeu, sem hesitações - O amor das coisas belas pensou um bocadinho e acrescentou - Ou pelo menos das coisas que eu considero belas. Sou eu que ocupa agora o seu lugar à mesa, na cadeira de braços, na extremidade oposta ao sítio em que costumava sentar-me. O mundo parece diferente visto da cabeceira. Ainda não me habituei por completo. Julgo que me encontro em paz com ele. Desde os dez ou onze anos a minha vida tem um sentido de que nunca se afastou, e me acompanhará, com a mesma determinação, até ao fim: escrever. Toda a minha arquitectura mental a construí com esse objectivo e o resto encaro-o como secundário. Nunca quis agradar a ninguém, nunca procurei reconhecimento nem aplauso e, portanto, nunca pedi muito ao meu pai, e a sua opinião era-me igual ao litro. Um mérito ele e a minha mãe tiveram, e estou-lhes grato por isso: não me encheram de amor e atenção, o que teria matado em mim o artista: no que diz respeito às emoções mais secretas estive sempre sozinho. Em contrapartida, a criatura de quem herdei o lugar à mesa inculcou-me o ódio impiedoso a três coisas: a desonestidade, a cobardia e a falta de rigor. Tão pouco lhe escutei, uma vez sequer, um exagero, uma mentira. Recebi dele o desprezo ou indiferença pelas coisas materiais, a frugalidade e, sobretudo, o tal amor das coisas belas: nada mau como legado. Não existiram, entre nós, efusões, confidências, pieguices: não era meu amigo, era apenas meu pai. Não era amigo dele, era seu filho. Durante dois meses e meio tenho pensado no que sinto em relação a um homem com o qual não possuo a menor semelhança física e cujo feroz egoísmo, cuja impulsiva violência me surpreendiam. (serei assim tão diferente?) e é-me difícil explicar. Em que medida foi importante para mim? Amava-o? Faz-me falta? Como responder a estas três questões? É muito clara, na minha cabeça, a noção que me fiz a mim mesmo, sem ajudas, e que, com qualquer outra família, a minha existência teria sido idêntica. Quanto ao amor não sei: afigura-se-me que não é uma palavra que possa aplicar à minha relação com o meu pai e, no entanto, um estranho elo me prende à sua lembrança: não o consigo definir, o que não me inquieta demasiado. Quanto a fazer-me falta julgo que me faz falta no sentido em que cresci junto dele, junto dele e longe dele ao mesmo tempo. Era eu muito pequeno e dizia-me poemas, dava-me livros para ler, falava com entusiasmo dos seus pintores, dos seus compositores, dos seus escritores, que só parcialmente são os meus. O meu pai não foi uma pessoa criativa, não detinha o mínimo sentido de humor embora o notasse capaz de apreciar o dos outros, mas viveu apaixonado pelo seu trabalho, pelas coisas que considerava belas, espero que por mulheres também. Suponho que foi feliz, seja o que for que isso signifique. Irascível, cruel, ciumento, perdoando-se unicamente a si, era igualmente capaz de guinadas de generosidade e de autêntico afecto. Contraditório, infantil, comodista. Estava aqui a fazer esta crónica e vieram-me à ideia os seus letreiros: o tubo de cola com um papel que dizia: ESTA COLA É DO PAI NÃO MEXER em maiúsculas e sublinhado, a tampa de uma lata de tinta com que andava a pintar, não me lembro o quê, na Praia das Maçãs, e ISTO NÃO É CINZEIRO e creio que a melhor homenagem que lhe fizeram foi a do meu irmão Nuno: estava o corpo na igreja, na antecâmara, numa mesinha, de toalha preta, a salva para os cartões-de-visita, o Nuno, em maiúsculas e sublinhado, encostou à salva ISTO NÃO É CINZEIRO e tenho a certeza absoluta que o meu pai teria adorado. No dia da sua morte fomos os seis filhos, juntos, ao Hospital da CUF: parecíamos um comando da Al Qaeda. Não, faltava o João que tinha ido a Bragança receber um penduricalho presidencial: fomos os outros cincos mas parecíamos um comando da AL Qaeda na mesma, em versão pele branca e olho azul. Isso ele teria adorado também, espero eu. Levávamos-lhe a roupa, aquela vestimenta comprida de professor. Claro que chorei: por ele, por mim, pela incompreensível finitude da vida: não somos feitos para a morte. Depois da missa disse-lhe um soneto do seu amado Antero. E lá ficou, consoante o seu desejo, em campa rasa, num caixão de pobre. Tive vontade, ao dar com ele no caixão, de lhe pôr em cima um letreiro ISTO NÃO É O MEU PAI porque o meu pai não era aquele. O meu pai é um homem de trinta anos a jogar ténis na Urgeiriça e a fazer fosquinhas às inglesas. O meu pai é um homem de trinta e tal ou quarenta anos a entrar-me no quarto, onde eu fumava às escondidas, de papéis na mão, a ler-me um parágrafo qualquer da tese de doutoramento, em que penou durante séculos, para me perguntar - O que é que achas? Eu nem o ouvia, ocupado a esconder o cigarro, e respondia-lhe que achava bem para o ver pelas costas. Há uma semana reli a sua tese, pai, com a atenção que pedia a um adolescente desesperado para disfarçar uma beata. Posso responder-lhe hoje que acho bem. Palavra de honra que acho bem. Volte para o escritório sossegado que escreveu uma tese do caneco. E, já agora, tenho saudades do cheiro do cachimbo. Tenho saudades de irmos de automóvel para Nelas. Tenho saudades de patinarmos no Benfica. O Nuno, aos três anos, com uma peritonite - Eu vou morrer e quero o meu paizinho. Isto nunca esqueci. Ia morrer (foi um milagre não ter morrido) e queria o paizinho dele. Sempre que lembro esta frase comovo-me tanto: - Eu vou morrer e quero o meu paizinho. esta frase e a cara de sofrimento do meu irmão. Foi graças a si que ele não morreu. Foi graças a si que não morri da meningite. Não pense que me esqueço. Não esqueço. Paizinho
Via Laranja Amarga:
Ajuste de Contas por António Lobo Antunes [Visão/ 9 de Setembro de 2004]
O meu pai morreu no dia 10 de Junho, há dois meses e meio. Pouco antes o Miguel perguntou-lhe - O que é que gostava de nos ter transmitido? e ele respondeu, sem hesitações - O amor das coisas belas pensou um bocadinho e acrescentou - Ou pelo menos das coisas que eu considero belas. Sou eu que ocupa agora o seu lugar à mesa, na cadeira de braços, na extremidade oposta ao sítio em que costumava sentar-me. O mundo parece diferente visto da cabeceira. Ainda não me habituei por completo. Julgo que me encontro em paz com ele. Desde os dez ou onze anos a minha vida tem um sentido de que nunca se afastou, e me acompanhará, com a mesma determinação, até ao fim: escrever. Toda a minha arquitectura mental a construí com esse objectivo e o resto encaro-o como secundário. Nunca quis agradar a ninguém, nunca procurei reconhecimento nem aplauso e, portanto, nunca pedi muito ao meu pai, e a sua opinião era-me igual ao litro. Um mérito ele e a minha mãe tiveram, e estou-lhes grato por isso: não me encheram de amor e atenção, o que teria matado em mim o artista: no que diz respeito às emoções mais secretas estive sempre sozinho. Em contrapartida, a criatura de quem herdei o lugar à mesa inculcou-me o ódio impiedoso a três coisas: a desonestidade, a cobardia e a falta de rigor. Tão pouco lhe escutei, uma vez sequer, um exagero, uma mentira. Recebi dele o desprezo ou indiferença pelas coisas materiais, a frugalidade e, sobretudo, o tal amor das coisas belas: nada mau como legado. Não existiram, entre nós, efusões, confidências, pieguices: não era meu amigo, era apenas meu pai. Não era amigo dele, era seu filho. Durante dois meses e meio tenho pensado no que sinto em relação a um homem com o qual não possuo a menor semelhança física e cujo feroz egoísmo, cuja impulsiva violência me surpreendiam. (serei assim tão diferente?) e é-me difícil explicar. Em que medida foi importante para mim? Amava-o? Faz-me falta? Como responder a estas três questões? É muito clara, na minha cabeça, a noção que me fiz a mim mesmo, sem ajudas, e que, com qualquer outra família, a minha existência teria sido idêntica. Quanto ao amor não sei: afigura-se-me que não é uma palavra que possa aplicar à minha relação com o meu pai e, no entanto, um estranho elo me prende à sua lembrança: não o consigo definir, o que não me inquieta demasiado. Quanto a fazer-me falta julgo que me faz falta no sentido em que cresci junto dele, junto dele e longe dele ao mesmo tempo. Era eu muito pequeno e dizia-me poemas, dava-me livros para ler, falava com entusiasmo dos seus pintores, dos seus compositores, dos seus escritores, que só parcialmente são os meus. O meu pai não foi uma pessoa criativa, não detinha o mínimo sentido de humor embora o notasse capaz de apreciar o dos outros, mas viveu apaixonado pelo seu trabalho, pelas coisas que considerava belas, espero que por mulheres também. Suponho que foi feliz, seja o que for que isso signifique. Irascível, cruel, ciumento, perdoando-se unicamente a si, era igualmente capaz de guinadas de generosidade e de autêntico afecto. Contraditório, infantil, comodista. Estava aqui a fazer esta crónica e vieram-me à ideia os seus letreiros: o tubo de cola com um papel que dizia: ESTA COLA É DO PAI NÃO MEXER em maiúsculas e sublinhado, a tampa de uma lata de tinta com que andava a pintar, não me lembro o quê, na Praia das Maçãs, e ISTO NÃO É CINZEIRO e creio que a melhor homenagem que lhe fizeram foi a do meu irmão Nuno: estava o corpo na igreja, na antecâmara, numa mesinha, de toalha preta, a salva para os cartões-de-visita, o Nuno, em maiúsculas e sublinhado, encostou à salva ISTO NÃO É CINZEIRO e tenho a certeza absoluta que o meu pai teria adorado. No dia da sua morte fomos os seis filhos, juntos, ao Hospital da CUF: parecíamos um comando da Al Qaeda. Não, faltava o João que tinha ido a Bragança receber um penduricalho presidencial: fomos os outros cincos mas parecíamos um comando da AL Qaeda na mesma, em versão pele branca e olho azul. Isso ele teria adorado também, espero eu. Levávamos-lhe a roupa, aquela vestimenta comprida de professor. Claro que chorei: por ele, por mim, pela incompreensível finitude da vida: não somos feitos para a morte. Depois da missa disse-lhe um soneto do seu amado Antero. E lá ficou, consoante o seu desejo, em campa rasa, num caixão de pobre. Tive vontade, ao dar com ele no caixão, de lhe pôr em cima um letreiro ISTO NÃO É O MEU PAI porque o meu pai não era aquele. O meu pai é um homem de trinta anos a jogar ténis na Urgeiriça e a fazer fosquinhas às inglesas. O meu pai é um homem de trinta e tal ou quarenta anos a entrar-me no quarto, onde eu fumava às escondidas, de papéis na mão, a ler-me um parágrafo qualquer da tese de doutoramento, em que penou durante séculos, para me perguntar - O que é que achas? Eu nem o ouvia, ocupado a esconder o cigarro, e respondia-lhe que achava bem para o ver pelas costas. Há uma semana reli a sua tese, pai, com a atenção que pedia a um adolescente desesperado para disfarçar uma beata. Posso responder-lhe hoje que acho bem. Palavra de honra que acho bem. Volte para o escritório sossegado que escreveu uma tese do caneco. E, já agora, tenho saudades do cheiro do cachimbo. Tenho saudades de irmos de automóvel para Nelas. Tenho saudades de patinarmos no Benfica. O Nuno, aos três anos, com uma peritonite - Eu vou morrer e quero o meu paizinho. Isto nunca esqueci. Ia morrer (foi um milagre não ter morrido) e queria o paizinho dele. Sempre que lembro esta frase comovo-me tanto: - Eu vou morrer e quero o meu paizinho. esta frase e a cara de sofrimento do meu irmão. Foi graças a si que ele não morreu. Foi graças a si que não morri da meningite. Não pense que me esqueço. Não esqueço. Paizinho
9.20.2004
Este senhor sujeitou-se a uma dieta de MacDonald's para revelar ao mundo em primeirissima mão algo bombástico, que nunca nos tinha sequer roçado a mente: Hamburguer e batatas fritas industriais com doses industriais de maionese engordam e entopem as veias !
Que documentário se seguirá? "Super Boom me": ao pisarmos uma mina anti-pessoal explodimos pelo ar? "Super Boom me 2": Se acendermos um fósforo com o gás aberto também? "How I risk my health and turn into a pig to appear on screen": A obsessão pela fama estupidifica ao ponto de arriscarmos a saúde?
Que documentário se seguirá? "Super Boom me": ao pisarmos uma mina anti-pessoal explodimos pelo ar? "Super Boom me 2": Se acendermos um fósforo com o gás aberto também? "How I risk my health and turn into a pig to appear on screen": A obsessão pela fama estupidifica ao ponto de arriscarmos a saúde?
Talking about Girl Power
Algures nas ruas de Bristol à noite...
bandos de raparigas e mulheres muitissimo arranjadas com a última moda (que para a semana estará obsoleta) , barulhentas e seguras. Muitas e mesmo muito divertidas. De todas as idades. Se existiam rapazes passaram-me despercebidos.
Opinião masculina latina: "Isto na teoria seria perfeito mas é assustador!". A conclusão mista latina foi que aqui deve ser comum ouvir dos porteiros: "Não sei se vai dar para entrarem, ainda se trouxessem um ou dois rapazes", e entre amigos: "A festa estava fracota, só gajas".
Algures nas ruas de Bristol à noite...
bandos de raparigas e mulheres muitissimo arranjadas com a última moda (que para a semana estará obsoleta) , barulhentas e seguras. Muitas e mesmo muito divertidas. De todas as idades. Se existiam rapazes passaram-me despercebidos.
Opinião masculina latina: "Isto na teoria seria perfeito mas é assustador!". A conclusão mista latina foi que aqui deve ser comum ouvir dos porteiros: "Não sei se vai dar para entrarem, ainda se trouxessem um ou dois rapazes", e entre amigos: "A festa estava fracota, só gajas".
9.09.2004
Agora existem empresas com todo o tipo de serviços, até trazem jornais e cigarros a casa a qualquer hora do dia ou da noite. Existe alguma que nos faça as malas? Que olhe para nós durante 5 minutos e adivinhe quais são os 20 kg de coisas indispensáveis à nossa felicidade, nos mande ir dar uma volta e na nossa ausência empacote todas essas coisas impecavelmente numa mala de rodinhas que não se tombe a virar nos cantos? Existe?
“Epitaph for my heart”*
Bebia muito e muito forte, nada de misturas nem “cocktails” da moda. Bebidas puras e transparentes directamente do frigorífico que só alojava líquidos.
Falava muito e muito alto. Tudo o que pensava mesmo que em segundos se contradissesse. Fazia amigos de circunstância em todo o lado, o seu encanto bruto e puro atingia todo o espectro humano.
Fodia muito e muito bem. Com as mulheres mais estranhas que encontrasse pelo caminho. Apaixonava-se com a força e a brevidade de um furacão. Nunca precisou de iludir ninguém, preferindo as que as outras, com rancor, chamavam putas e que ele sabia serem apenas a sua versão de saias. Preferia os gatos aos cães e abominava trelas e gaiolas. Só o movia o inesperado e só conseguia agradar a quem não esperava nada dele.
Comia muito, sempre fora de casa e ria com alarido dos conselhos médicos. Fumava tudo o que fosse fumável, não exigindo nenhum cubanismo aos charutos nem laivos de cowboiada aos cigarros. Arrancava com desprezo e enfado o filtro a qualquer cigarro que lhe atravessasse o caminho. Engordou rápida e orgulhosamente, ganhando em proporção um brilho de contentamento de quem ia engolindo e saboreando o mundo. Nunca praticou um único desporto de grupo, tendo percorrido a pé, apenas pelo desafio, os Andes e tentado sem sucesso atravessar a nado o Canal da Mancha.
Só jogava jogos de azar, desprezando tudo o que, na vida, dependesse de estratégia. Conduzia tão rápido quanto conseguia e só parava para dormir. O estritamente essencial, precisando, mesmo para essas escassas horas, de auxiliares químicos dos mais fortes. Lia tudo o que conseguia, o olhar percorria as páginas a um ritmo irreal e bebia dos autores de eleição a beleza que lhe permitia enfrentar tristezas esporádicas mas profundas.
Dos sete pecados capitais permaneceu virgem à inveja e à avareza tendo-se embriagado com os restantes. De encontro a todas as previsões não durou muito. Ainda está na encruzilhada entre o céu e o inferno, à espera de saber se irá humanizar o primeiro ou denegrir o segundo. Deixou nos que o conheceram a muito ligeira sensação de terem pousado as pontas dos dedos na cauda do Diabo e de terem beijado a movimentos de pestana a sombra de Deus.
*Título roubado a uma canção dos Magnetic Fields. Stephen: Pá, se ficaste zangado infelizmente não vais poder ralhar comigo a 20 de Outubro em Lisboa. Vou estar exilada numa ilha cinzenta.
9.04.2004
Lição para a vida (3):
Nunca tentar resolver um mau corte de cabelo com tinta cor-de-laranja (excepto se for carnaval e se quiser mascarar de Mila Jovovitch no "Fifth Element").
Agora, respirar fundo, ganhar coragem e sair à rua...1,2,3...
Nunca tentar resolver um mau corte de cabelo com tinta cor-de-laranja (excepto se for carnaval e se quiser mascarar de Mila Jovovitch no "Fifth Element").
Agora, respirar fundo, ganhar coragem e sair à rua...1,2,3...
Raspa, a "Stepford Wife" em pleno anúncio (anti)-Tide
Caras Amigas,
Todas nós sabemos como é aborrecida uma nódoa díficil nas ocasiões mais impróprias: quando o noosso marido tem pressa para o emprego e deixa cair na camisa imaculadamente engomada um pouco da compota de morango das panquecas, ou quando estamos atrasadas para a reunião da paróquia na qual se vão decidir as canções da missa do Galo. E todas nós sabemos melhor ainda como é difícil encontrar um tira nódoas eficaz que não seja um arrombo na delicada economia doméstica, não vá o marido pensar que somos umas esbanjadoras, ai isso é que não!
Pois bem, vou partilhar um dica que aprendi recentemente que me tem poupado muitos embaraços e conquistado um pouco mais o coração do meu querido marido, pois todas sabemos que o caminho para o coração de um homem está no aprumo doméstico e na economia de meios:
com a nódoa ainda fresca humedecer o tecido e colocar uma camada de sabão azul e branco, deixar secar e limpar com água e uma escovinha. Vão ver que, mesmo sendo tão simples resulta lindamente.
Amigas, voltarei com novas dicas quando a esquizofrenia o permitir.
Caras Amigas,
Todas nós sabemos como é aborrecida uma nódoa díficil nas ocasiões mais impróprias: quando o noosso marido tem pressa para o emprego e deixa cair na camisa imaculadamente engomada um pouco da compota de morango das panquecas, ou quando estamos atrasadas para a reunião da paróquia na qual se vão decidir as canções da missa do Galo. E todas nós sabemos melhor ainda como é difícil encontrar um tira nódoas eficaz que não seja um arrombo na delicada economia doméstica, não vá o marido pensar que somos umas esbanjadoras, ai isso é que não!
Pois bem, vou partilhar um dica que aprendi recentemente que me tem poupado muitos embaraços e conquistado um pouco mais o coração do meu querido marido, pois todas sabemos que o caminho para o coração de um homem está no aprumo doméstico e na economia de meios:
com a nódoa ainda fresca humedecer o tecido e colocar uma camada de sabão azul e branco, deixar secar e limpar com água e uma escovinha. Vão ver que, mesmo sendo tão simples resulta lindamente.
Amigas, voltarei com novas dicas quando a esquizofrenia o permitir.